quarta-feira, 16 de julho de 2008

A BÍBLIA!

A Bíblia A partir de sua entrada no cristianismo, os assírios adotaram como referência religiosa e moral os Evangelhos dos apóstolos de Jesus Cristo e os livros que relatavam a vida e obra dos apóstolos de Jesus, também conhecidos como Atos dos Apóstolos. No início, esses Evangelhos eram livros separados, cada qual relatando a vida e obra de Jesus conforme o relato de um apóstolo e às vezes seus seguidores, ou havia diversos deles e com o passar dos tempos, por causa das sucessivas cópias, apareceram diversas versões. Tatian o assírio, nascido pela segunda metade do século I do cristianismo, e já no século II, junto com seu filho, pregaram o cristianismo na Mesopotâmia em forma de versos musicados. Foi esse mesmo Tatian que produziu uma versão unificada em um só livro de quatro Evangelhos que ficou famoso por seu nome grego: Diatesseron, que significa “harmonia dos quatro”. Em assírio-arameu, existem apenas fragmentos dessa obra, porém, a obra pode ser quase que inteiramente reconstituída através dos ensinamentos de Efrem (sec. IV). O Diatesseron foi traduzido para diversos idiomas e que restaram até nossos dias, dentre elas mencionam-se duas versões bem conservadas, uma em latim e outra em árabe. Aparentemente, o Diatesseron caiu nas graças do povo cristão pois contava de forma simples a vida, obras e ensinamentos de Jesus Cristo e por isso, permaneceu por muitos séculos como livro sagrado dos cristãos do oriente. Os livros dos Atos dos Apóstolos também tornaram-se populares nas Igrejas do Oriente. Os mais famosos entre os povos de fala assíria-aramaica foram: Atos de São Tomé Apóstolo e Atos de Santo Adai Apóstolo pois esses dois tiveram passagem marcante pela Mesopotâmia. No século V, Rabula, bispo de Edessa e reitor da universidade de Edessa, acatando a determinação do Concílio de Éfeso ( 431 d.C.), ordenou que todas as cópias do Diatesseron e Atos dos diversos Apóstolos que se encontrassem sob sua jurisdição fossem substituídas pela versão Pexito da Bíblia. Essa era uma versão composta pelos livros do Antigo Testamento, e parte do Novo Testamento. Por fim, todas as Igrejas Orientais (Siríaca Ortodoxa de Antioquia e Assíria do Oriente), acabaram por adotar essa versão Pexito. A versão Pexito mais antiga subsiste em uma versão apenas dos quatro Evangelhos que figuram na Bíblia em idioma assírio-arameu. Dessa versão restaram dois exemplares; um conhecido como Codex Sinaiticus e o outro como Codex Curetonianus. Ambos são quase idênticos e são conhecidos no mundo ocidental como vetus syra qual seja: siríaca antiga. Talvez sua redação retroceda ao início do século II d.C. Uma versão Pexito mais completa data de 464 d.C., proveniente da cidade de Amid (atual Diarbequir na Turquia) é o exemplar mais antigo e completo da Bíblia que se conhece no mundo e é escrita na grafia conhecida por estrangueloio (=grafia do evangelho). Encontra-se atualmente no museu Britânico em Londres, Inglaterra. A versão Pexito da Bíblia, compilada do Targum (targum significa “tradução” em assírio-arameu, e era a tradução do Velho Testamento para o arameu) e das versões gregas e vetus syra do Novo Testamento, por Filocsinos (Phyloxenious) de Mabug (Hierápolis em grego, ficava na província de Beth Garmai, na Pérsia) já incorporava todos os livros do Antigo Testamento que incluía Macabeus, Judite, Eclesiástico (bar sirakh), a divisão em 151 Salmos, e mais o Novo Testamento, porém, sem as seguintes Epístolas: 2a de São Pedro, 2a e 3a de São João, de São Judas e o Apocalipse. Finalmente, em 616 d.C., Tuma, bispo e reitor da escola de Harqual, apresentou uma revisão da versão de Filocsinos, já incluindo todas as Epístolas acima, porém baseado em versões gregas dos Evangelhos. Com isso, perdeu-se um pouco da “originalidade” semita que a literatura bíblica apresenta. Enquanto a Igreja Assíria de Oriente utiliza somente a versão Pexito “original”, a Igreja Siríaca de Antioquia faz uso tanto dessa quanto da versão de Tuma de Harqual, conhecida como “Harqualoito”. É interessante ressaltar que as versões ocidentais, tanto as latinas e as gregas apresentam uma divisão de 150 Salmos, tal como a versão masorética dos judeus, no entanto, entre os pergaminhos encontrados nas cavernas de Qumran, próximas ao mar Morto, pergaminhos esses pertencentes à biblioteca dos essênios e que datam do século I a.C., a divisão dos Salmos é de 151, tal como na versão Pexito. A Bíblia, como a conhecemos, é uma compilação de diversos livros escritos pelo povo judeu, no correr de aproximadamente 700 ou 800 anos. Tradicionalmente, as Igrejas orientais, que se utilizam do idioma arameu em seus rituais, consideram que esses livros são de inspiração divina. A Bíblia é composta basicamente por duas grandes divisões, o Antigo Testamento (também conhecido como Velho Testamento) e o Novo Testamento. O Antigo Testamento está dividido em três grandes subdivisões: os Livros Históricos, os Livros dos Profetas e os Livros Sapienciais. Os Livros Históricos são Gênesis, Êxodo, Números, Josué, Juizes, Samuel (I e II), Reis (I e II), Crônicas (I e II), Esdras, Neemias, Judite, Ester e Macabeus. Os Livros Sapienciais são: Levítico, Deuteronômio, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes (em arameu: qohlat), Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico (em arameu: bar sirakh) e Lamentações. Todos os demais são Livros dos Profetas. O Antigo Testamento começou a ser compilado por volta de 700 a.C. porém os mais antigos documentos que comprovam a sua existência datam do século I a.C., são os pergaminhos descobertos próximos ao mar Morto. Por esses pergaminhos, constatou-se que havia diversos outros livros que os judeus consideravam de inspiração divina, no entanto, não entraram no cânone bíblico, como por exemplo, o Livro de Enoc. O Novo Testamento é composto por quatro grandes grupos: os Evangelhos (são 4), Atos dos Apóstolos, Cartas dos Apóstolos às diversas regiões do mundo e Revelação do final dos tempos (Apocalipse). Para o cristianismo, o respeito pelo Antigo Testamento é devido pois é através dele que se chega historicamente ao Novo Testamento, é a prova da continuidade da comunicação de Deus com o ser humano, é a continuidade do plano divino para o ser humano e o universo. Por outro lado, o Novo Testamento, em especial os Evangelhos anunciam as “boas novas” à humanidade. Evangelho é uma palavra grega (ewangelion: pronuncia-se euán-guelion) composta que significa “boa nova”ou “boa notícia”. E que “novas” são essas? Segundo os mestres das Igrejas Orientais, é o anúncio da salvação do ser humano que já não terá ele um fim inócuo pela morte; não é a morte o fim de tudo; há vida pós-morte, “do outro lado” há uma vida que é um estado de plena felicidade, sem o sofrimento da matéria, sem as preocupações do que é material, um estado em que o ser que Deus criou a ele retorna para a plenitude da felicidade tal como Deus o criara no princípio.

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